Dentre essa bagunça, encontrei o texto que segue, que escrevi a menos de um ano atrás. Espero que gostem!
Aquilo que eu chamo de amor...
O corpo já não acompanhava a mente e a mente tão pouco era forte e sadia como antes. Ali, deitada sobre seu leito de morte, tentava se recordar, na solidão de seus pensamentos vacilantes tudo que passara em sua vida. Oitenta e cinco anos de uma vida cheia de emoções.
Lembrara do primeiro passeio de bicicleta. Uma bicicleta bem antiga, daquelas com assento de madeira e rodinhas de apoio nas laterais, provavelmente postas por seu pai.
Lembrou-se ainda das aventuras que tivera no auge dos seus sete anos: a primeira ida à escola; As amigas que fizera na infância e as poucas que estão vivas até hoje; Lembrou-se do primeiro paquera, aos 10 anos. Um menino um ano mais velho. Lindo, loiro de olhos verdes com aspecto celestial. Nos braços do garoto, pequenos mas visíveis músculos se destacavam, provenientes do trabalho que passara a realizar, após seu pai ter sido morto nos campos de batalhas, durante a Primeira Guerra Mundial.
Paixão de criança, como sempre acaba logo. Dias mais tarde o menino abandonou a escola por falta de tempo para a mesma, e acabou sendo esquecido, nem mesmo lembrava qual era seu nome.
Paixão de criança, como sempre acaba logo. Dias mais tarde o menino abandonou a escola por falta de tempo para a mesma, e acabou sendo esquecido, nem mesmo lembrava qual era seu nome.
Recordou das provas, de suas excelentes notas, que deixavam seu pai orgulho, um orgulho de pai mesmo.
Conseguiu lembrar também, mesmo com dificuldades, os momentos tristes de sua vida: a perda dos pais; a ausência de alguns amigos, por morte ou distancia mesmo.
A lembrança mais nítida e também a mais importante da sua vida, ela poderia viver duzentos, trezentos anos, tanto faz, jamais esqueceria. Encontrou-o pela primeira vez quando foi coroada princesa do Baile de Primavera, em 1950.
Foi mais que "um amor a primeira vista", foi mágico. Ele nada se parecia com o garoto que ela paquerava quando pequena. Este possuía cabelos negros como a noite e pele branca como leite. Era magro (magro mesmo, no melhor estilo "vara de pescar"). Não era belo, mas ela o considerava lindo. Carlos Eduardo era seu nome.
Casaram-se. Foram muito felizes, mas não tiveram filhos, o que não era normal para a época e nem pra o fato de serem casal com descendência italiana. Eram só os dois, a vida toda. Anos juntos, numa cumplicidade por vezes silenciosa.
Ela recordou a tristeza que sentira quando o médico lhe disse: - "não há mais o que fazer por ele, não lhe daremos esperanças". E de repente não havia mesmo mais esperança para nada. A morte foi fulminante, vinte dias após diagnosticado o câncer.
Lembrou-se do que havia dito sobre o caixão dele: - "estarei contigo sempre, ninguém jamais amou alguém tanto assim, nos encontraremos novamente pra sempre. Para todo o sempre".
(...)
De repente sentiu uma forte dor no peito, a respiração ofegante, as mãos trêmulas. Sabia o que estava acontecendo. Não quis chamar ninguém, não queria ser salva, apenas fechou os olhos, que a esta altura já estavam cheios de lágrimas e murmurou:
- "Para todo o sempre".
FIM
Dramático demais?? Também achei, mas sabe como é, texto escrito em aulas de português.
Espero que tenham gostado um pouquinho só!
Beijo!
